7 de agosto de 2009

Sobre Deuses e Médicos...

Você confia no seu médico acima de qualquer coisa?



No início da faculdade, após ler um texto, me interessei por ler a obra, sugerido pela professora Suzana - "Os meus romanos", de Ina Von Binzer. O livro contempla cartas enviadas, da autora, para uma amiga que estava na Alemanha. Ina, alemã, era professora, morando no Brasil na metade do século XIX, a fim de educar filhos de ricos fazendeiros.


Ela dizia que neste país, todo brasileiro bem nascido ou bem colocado na vida ganhava o status de "doutor". Teses, longas produções acadêmicas, tudo era dispensável. O nobre status era dado automaticamente em função das posses que alguém possuía. Brilhante e lamentável constatação. Aliás, tragicômica. Isso foi escrito há 150 anos atrás - E continua atualíssimo. Ontem, 6 de agosto de 2009, tive que chamar uma delegada de Doutora. Chamei com dor, mas chamei. Como boa serva do latifúndio.


Em se considerando que alguém seja, realmente, um doutor, mas ainda mais do que isso: UM DOUTOR MÉDICO, é impossível que a nobreza não seja elevada ao quadrado. Caberia ressaltar que doutor mesmo é quem fez doutorado. Desconheço como foi que o termo migrou para a medicina e ficou por lá, enaltecendo uma graduação (sem especialização, sem mestrado, sem doutorado). Entrementes, é fato que idolatramos o diploma do médico como quem idolatra um DEUS - A começar pela entusiasta forma como a imprensa noticia os vestibulandos aprovados em medicina.




Não seria um contrasenso lembrarmos que, possivelmente, em algum momento de nossas vidas estudamos muito - e não estudamos bem. Estudar muito nunca foi sinônimo de competência, ou um atestado de sabedoria. Talvez constitua uma virtude - Mas não é determinante. Não é uma grandeza e não mede qualidade ou efetividade...

Não seria um contrasenso lembrarmos que, possivelmente, em algum momento de nossas vidas estudamos muito - e não estudamos bem. Estudar muito nunca foi sinônimo de competência, ou atestado de sabedoria. Talvez constitua uma virtude - Mas não é o determinante.


Pontual foi Cláudio Castro, em "A idolatria do diploma", com uma análise de como o diploma é instrumentalizado e quão grande é o seu caráter burocrático. Quanto ao diploma pelo diploma em si, Chateaubriand e Roberto Marinho não poderiam ser jornalistas hoje. Laboriou, um ilustre botânico brasileiro, Ph.D. pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e também membro da Academia Brasileira de Ciências não pôde ensinar na USP, pois não tinha graduação.




Acrescento que Josef Mengele, médico alemão, com doutorado pelas Universidades de Frankfurt e Munique, injetou tinta azul nos olhos de crianças. Dissecou anões vivos. E não foi por falta de diploma.


A idolatria que fazemos do diploma médico, somada a uma eventual simpatia, ao carinho ou ao simples tradicionalismo de consultar com aquele que já nos SALVOU tantas vezes (Esse dotô está com a nossa família desde mil novecentos e guaraná com rolha!) nos impede de CONSTATAR que pesquisas, que evidências científicas e a opinião de outros profissionais ou a de "leigos" (leia-se: não diplomados), possa ser o que há de genuíno e seguro.


Se você confia no seu médico de olhos fechados, é hora de abri-los. A verdade está lá fora. Seu médico não é Deus. Não é Chuck Norris. Não tem poderes mágicos. Fez faculdade, será que vez em quando não jogava truco? Ele não é humano? Não é influenciável, não está sujeito à cultura? Não é corruptível como o é cada um de nós? Há alguma espécie de impermeabilidade cerebral nesta criatura, que a deixa imune quanto a más tendências, imune a condutas corrompidas?


Você aposta a sua vida por venerar alguém APENAS porque ele tem um diploma?


Referências: A idolatria do diploma - Cláudio de Moura Castro.
Sugestão de leitura: Binzer, Ina Von - "Os meus romanos" Paz e Terra, 1997.


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