9 de maio de 2010

Parto na Água é seguro para gestantes de baixo-risco, evidenciam pesquisas.


No artigo republicado abaixo, A Drª. Melania Amorim faz uma varredura das mais significativas e abrangentes pesquisas científicas que estudaram o parto na água e conclui que esta modalidade de parto representa uma opção segura para parturientes de baixo-risco que assim o desejem.

(A Dra. Melania é graduada em medicina pela UFPB; mestrada pelo IMIP; doutorada e pós-doutorada pela Unicamp e com pós-doutorado recente pela Organização Mundial de Saúde, em Genebra.)

Segue:


Parto na Água


Muito tem se debatido sobre o parto na água: é seguro? Quais as vantagens? Há maior risco de infecção? Quais os riscos para o bebê? Existem contra-indicações? O fato é que cada vez essa modalidade de parto tem se tornado disponível em diversas maternidades e pode representar também uma opção para os partos domiciliares (1).

A imersão em água durante o trabalho de parto tem sido referendada como um método útil para o alívio da dor do parto. Uma revisão sistemática disponível na Biblioteca Cochrane avalia a imersão em água durante o primeiro e o segundo estágios do parto (dilatação e expulsão, respectivamente) (2). Foram incluídos 11 ensaios clínicos randomizados (ECR) , dois dos quais avaliaram a imersão em água durante o período expulsivo. Nos ECR avaliando a imersão em água durante a fase de dilatação, observou-se significativa redução da dor e decréscimo da necessidade de analgesia farmacológica (peridural ou combinada). Os autores sugerem que a imersão em água durante o primeiro estágio do parto pode ser recomendada para parturientes de baixo-risco (2).

Nos dois ensaios clínicos avaliando o segundo estágio, ou seja, o parto assistido na água, não houve aumento do risco de desfechos maternos e neonatais adversos e verificou-se aumento da satisfação materna (3,4). No entanto, devido ao pequeno número de casos (240) e ao fato de várias mulheres randomizadas para ter parto na água na verdade pariram fora da água, não foi possível, as informações foram limitadas e os autores da revisão sistemática comentam que as evidências são insuficientes para recomendar ou contra-indicar o parto na água. Um outro ensaio clínico randomizado foi publicado depois desta revisão sistemática (5) e os seus resultados devem em breve ser incorporados, podendo gerar novas conclusões: neste estudo, verificou-se, além da redução da necessidade de analgésicos, menor duração do parto e redução do risco de cesárea no grupo que teve o parto na água.

Tendo em vista a escassez de ensaios clínicos randomizados (evidência nível I), e considerando que pode ser de fato difícil randomizar as mulheres para essa modalidade de parto, uma revisão sobre vantagens e desvantagens do parto na água deve se estender aos estudos observacionais, embora esses representem uma evidência de qualidade mais baixa (nível II) (6).

Alguns relatos de caso (7,8) sugerem efeitos prejudiciais para o recém-nascido, relacionando maior risco de desconforto respiratório no período neonatal. Entretanto, relatos de caso constituem um nível de evidência muito pobre (nível III ou IV), porquanto uma relação causal não pode ser estabelecida. Assim, estudos observacionais incluindo grande número de casos e comparando partos na água e fora da água devem ser privilegiados.

Um grande estudo publicado em 2004 comparou 3.617 partos na água e 5.901 controles (9). O parto na água se associou a redução das lacerações perineais, menor perda sanguínea e menor necessidade de analgesia de parto. Não houve diferença na taxa de infecção materna e neonatal. Outros estudos publicados nos anos subsequentes confirmaram esses achados, sugerindo que o parto na água representa uma alternativa valiosa e promissora ao parto fora da água (10, 11, 12, 13). O estudo mais recente foi publicado em 2007 e demonstrou ainda que a imersão em água se associou com menor duração tanto da fase de dilatação como da fase de expulsão do parto, sem aumento do risco de infecção materna e neonatal (14). Todos esses estudos destacam que critérios rigorosos de seleção foram observados e que essas conclusões só podem ser extrapoladas para parturientes de baixo-risco.

Uma preocupação constante de vários leigos e mesmo de alguns profissionais é o risco de aspiração de água, traduzido pelo receio de que “o bebê se afogue”. Devemos, porém, lembrar, que o bebê saudável só “respira” efetivamente quando sai da água. Imediatamente depois do nascimento em água morna (que inibe a respiração), o bebê se mantém como dentro do útero, quando estava imerso em líquido amniótico: a “respiração” não está estabelecida e as trocas gasosas seguem se efetuando através do cordão umbilical. Mantém-se intacto o reflexo de mergulho, de forma que mesmo uma ou duas gotas de água na laringe são suficientes para desencadear esta resposta, inibindo a inalação de líquido (15).

O risco de aspiração ocorre para os bebês deprimidos (com hipoxia grave), que podem até aspirar o próprio líquido amniótico e, por não terem um bom clearance pulmonar, não expelem o líquido aspirado (16). Deve-se concluir, portanto, que o parto na água não é uma boa opção quando existe o risco de sofrimento fetal e deve ser contra-indicado na presença de padrões anômalos de frequência cardíaca fetal (10-14, 17). Salienta-se que a monitorização da frequência cardíaca fetal é importante tanto para partos na água como fora da água, e seu rigor durante o trabalho de parto deve ser observado (17), de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) (18).

O American College of Obstetricians and Gynecology (ACOG) não tem posição oficial sobre o parto na água, e no Brasil a Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) também não se manifestou sobre o tema. Entretanto, na Inglaterra, tanto o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists como o Royal College of Midwives explicitamente apóiam a imersão de água durante o trabalho de parto e o nascimento, tendo publicado uma diretriz específica sobre o assunto (17).

Em suma, respondendo aos questionamentos no início deste artigo, podemos concluir que o parto na água representa uma opção segura para parturientes de baixo-risco que assim o desejem, devendo-se respeitar a autonomia feminina com respeito à decisão do local de parto. Existem algumas vantagens, como redução da necessidade de analgesia, redução de episiotomia e lacerações espontâneas, menor duração do primeiro e do segundo estágio do parto e maior satisfação materna. Não foi documentado maior risco de infecção materna ou neonatal. O risco de aspiração só existe para bebês deprimidos ou acidóticos, de forma que a ausculta fetal é essencial para monitorização do trabalho de parto. Gestações de alto-risco e presença de padrões anômalos de frequência cardíaca fetal representam contra-indicações para o parto na água.

Dentro de uma filosofia de respeito à autonomia materna, as mulheres devem ser informadas sobre as evidências disponíveis acerca do parto na água, devendo fazer uma escolha livre e esclarecida. Possíveis riscos e contra-indicações devem ser discutidos e, como em qualquer procedimento durante a assistência ao parto, deve-se obter a assinatura do termo de consentimento. Fundamental ainda é que o parto na água deve ser assistido por profissionais habilitados com experiência nessa modalidade (17).

Melania Amorim, MD, PhD


Vídeo de parto na água assistido por nossa equipe e disponível no Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=3YBHDbx5kEM

REFERÊNCIAS:

1. Kitzinger S. Letter from Europe: water birth: just a fad? Birth 2009; 36 :258-60.
http://www3.interscience.wiley.com/cgi-bin/fulltext/122592330/PDFSTART

2. Cluett ER, Burns E. Immersion in water in labour and birth. Cochrane Database of Systematic Reviews 2009, Issue 2. DOI: 10.1002/14651858.CD000111.pub3.
http://www.mrw.interscience.wiley.com/cochrane/clsysrev/articles/CD000111/frame.html

3. Nikodem C, Hofmeyr GJ, Nolte AGW, de Jager M. The effects of water on birth: a randomized controlled trial. Proceedings of the 14th Conference on Priorities in Perinatal Care in South Africa; 1995 March 7-10; South Africa. 1995:163-6.

4. Woodward J, Kelly SM. A pilot study for a randomised controlled trial of waterbirth versus land birth. BJOG: an international journal of obstetrics and gynaecology 2004; 111: 537-45.
http://www3.interscience.wiley.com/cgi-bin/fulltext/118813598/PDFSTART

5. Chaichian S, Akhlaghi A, Rousta F, Safavi M. Experience of water birth delivery in Iran. Arch Iran Med 2009; 12: 468-71.
http://www.ams.ac.ir/AIM/NEWPUB/09/12/5/007.pdf

6. Oxford Centre for Evidence-based Medicine - Levels of Evidence (March 2009).
http://www.cebm.net/index.aspx?o=1025

7. Batton DG, Blackmon LR, Adamkin DH, Bell EF, Denson SE, Engle WA, Martin GI, Stark AR, Barrington KJ, Raju TN, Riley L, Tomashek KM, Wallman C, Couto J; Committee on Fetus and Newborn, 2004-2005. Underwater births. Pediatrics 2005; 115: 1413-4.
http://pediatrics.aappublications.org/cgi/pmidlookup?view=long&pmid=15867054

8. Mammas IN, Thiagarajan P. Water aspiration syndrome at birth - report of two cases. J Matern Fetal Neonatal Med 2009; 22: 365-7.
http://informahealthcare.com/doi/pdf/10.1080/14767050802556067

9. Geissbuehler V, Stein S, Eberhard J. Waterbirths compared with landbirths: an observational study of nine years. J Perinat Med 2004; 32: 308-14.
http://www.reference-global.com/doi/pdfplus/10.1515/JPM.2004.057

10. Eberhard J, Stein S, Geissbuehler V. Experience of pain and analgesia with water and land births. J Psychosom Obstet Gynaecol 2005; 26: 127-33.
https://commerce.metapress.com/content/16441n2545k90228/resource-secured/?target=fulltext.pdf&sid=zb3zrqbulif0nhrroekunt55&sh=www.springerlink.com

11. Thoeni A, Zech N, Moroder L, Ploner F. Review of 1600 water births. Does water birth increase the risk of neonatal infection? J Matern Fetal Neonatal Med 2005; 17:357-61.
http://informahealthcare.com/doi/pdf/10.1080/14767050500140388

12. Thöni A., Zech N., Moroder L. Water birth and neonatal infections. Experience with 1575 deliveries in water. Minerva Ginecol 2005; 57: 199-206.
http://www.minervamedica.it/en/journals/minerva-ginecologica/article.php?cod=R09Y2005N02A0199&acquista=1

13. Thöni A, Zech N, Ploner F. Gebären im Wasser: Erfahrung nach 1825 Wassergeburten. Gynakol Geburtshilfliche Rundsch 2007; 47: 76-80.
http://content.karger.com/

14. Zanetti-Daellenbach RA, Tschudin S, Zhong XY, Holzgreve W, Lapaire O, Hösli I. Maternal and neonatal infections and obstetrical outcome in water birth. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol 2007; 134: 37-43. http://www.ejog.org/article/S0301-2115%2806%2900514-8/pdf

15. Burns E, Kitzinger S. Midwifery Guidelines for the use of water in Labour. Oxford Brookes University, 2nd ed. 2005.
http://www.sheilakitzinger.com/WaterBirth.htm#Midwifery%20Guidelines

16. Hermansen CL, Lorah KN. Respiratory distress in the newborn. Am Fam Physician 2007; 76: 987-94.
http://www.aafp.org/afp/2007/1001/p987.html

17. http://www.rcog.org.uk/files/rcog-corp/uploaded-files/JointStatmentBirthInWater2006.pdf

18. World Health Organization. IMPAC Integrated Management of Pregnancy and Childbirth. Managing complications in pregnancy and childbirth: a guide for midwives and doctors. Geneva. WHO, 2000.
http://www.who.int/making_pregnancy_safer/publications/archived_publications/mcpc.pdf

22 de outubro de 2009


O PARTO É DELAS!

Abuso de intervenções médicas, falta de informação e de segurança para decidir têm tirado de muitas mulheres o direito ao parto natural. A cesárea, indicada para situações de risco, ainda ocorre de forma indiscriminada no Brasil


Por: Luciana Benatti


Publicado em 01/10/2008 na "Revista do Brasil". Acesse http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/28/o-parto-delas/view
O parto é delas
(Foto: Marcelo Min)

É madrugada. Na banheira da suíte de parto de uma movimentada maternidade particular da zona sul de São Paulo, uma mulher está prestes a dar à luz seu primeiro filho. Não sente medo nem ansiedade: tem ao seu redor pessoas que a apóiam. As contrações vêm em ondas, momentos de dor e relaxamento. Ela não tomou anestesia. Conta apenas com o alívio proporcionado pela água morna. À sua frente, a médica Andrea Campos observa sorrindo. Horas depois, o bebê vem ao mundo, dentro da água. O instante é mágico, de puro êxtase, garante a mãe, autora desta reportagem.
Na água e sem anestesia? No país campeão mundial de cesarianas, pode parecer coisa de gente maluca. Na verdade, trata-se da escolha consciente de mulheres que, alheias ao apelo do parto “prático, rápido e indolor” prometido pelos defensores da cesárea com hora marcada, decidiram vivenciar o nascimento de seus filhos com a maior naturalidade possível. O que envolve também abrir mão de tecnologias e de intervenções médicas desnecessárias. Se a gestação for de baixo risco, o parto normal é mais seguro para a mãe e para o bebê.
Por ser uma cirurgia, a cesárea só é indicada quando há risco. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, isso ocorre em, no máximo, 15% dos casos. No entanto, a cesariana representa 43% dos partos realizados no Brasil, considerando o setor público e o privado. No universo dos planos de saúde chega a 80%, enquanto no Sistema Único de Saúde soma 26%. Todos concordam: o procedimento, quando bem indicado, é capaz de salvar vidas. Por outro lado, se realizado sem uma indicação médica precisa, pode expor a mulher e o recém-nascido a riscos desnecessários. “Quando você agenda uma cesariana sem que a mulher tenha entrado em trabalho de parto, pode estar retirando o bebê antes da sua completa formação”, afirma Andréia Abib, gerente-técnico assistencial de produtos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão que regula as atividades das operadoras de planos privados. “Uma mulher bem informada jamais iria desejar isso”, acredita Andréia. Como parte de uma campanha em favor do parto normal e da redução das cesarianas desnecessárias, a agência elaborou uma carta de esclarecimento e convidou as operadoras a enviá-la às usuárias. Em maio, o Ministério da Saúde também lançou campanha de incentivo ao parto normal, com um comercial estrelado pela atriz Fernanda Lima, que teve seus gêmeos dessa forma.

Cesáreas desnecessárias

Apenas um pequeno percentual de cesáreas tem indicações claras e justificadas. De acordo com um estudo recente realizado por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Osvaldo Cruz, em duas maternidades particulares do Rio de Janeiro, 92% das cesarianas foram feitas com data e hora marcadas, antes de a mulher entrar em trabalho de parto. “É um escândalo”, critica a epidemiologista Silvana Granado Nogueira da Gama, integrante da equipe.
Embora o Conselho Federal de Medicina (CFM) proíba tratar a cesárea como procedimento eletivo, há profissionais que indicam a intervenção assim que a gravidez completa 38 semanas (uma gestação normal dura cerca de 40 semanas, podendo ir até 42). Um risco não informado é o de que a cesárea realizada antes que o feto esteja com os pulmões completamente maduros acarreta dificuldades respiratórias. Por esse motivo, muitos bebês hoje nascem e vão direto para a UTI.
A pressão pela cesárea eletiva nem sempre acontece de forma direta. “O médico fala ‘o seu nenê é grande’ ou ‘está com o cordão enrolado’. A mulher fica preocupada e, no final, acha que foi ela quem decidiu. A gente brinca que ‘o Ministério da Saúde adverte: pré-natal faz mal para o parto normal’, porque as mulheres de classe média, que fazem um número suficiente de pré-natais, que deveriam ser de qualidade, são as que mais fazem cesárea”, afirma Silvana.
O mesmo estudo da Fiocruz derruba um argumento muito freqüente, o de que as próprias mulheres brasileiras desejariam o parto cesáreo: 70% das gestantes não manifestaram preferência pela cesariana no início da gravidez, mas quase 90% a fizeram. “Isso indica que há um convencimento durante o pré-natal”, afirma Lena Peres, do Departamento de Ações Estratégicas do Ministério da Saúde.
“Cesariana é uma técnica. Parto normal, uma arte”, diz o obstetra Jorge Kuhn, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Muitos médicos se formam sem saber fazer parto normal”, afirma a doula e educadora perinatal Ana Cristina Duarte, coordenadora do Grupo de Apoio à Maternidade Ativa (Gama). A doula é uma acompanhante de parto treinada para oferecer suporte físico, emocional e afetivo.
O obstetra Pedro Pablo Chacel, corregedor do Conselho Federal de Medicina (CFM), admite que muitos médicos não estão preparados para realizar o parto normal e, sem saber realizar outras manobras obstétricas, partem para a cesariana. Mas não vê nisso um problema. “Cem anos atrás as indicações de cesariana eram absolutas: ou faz ou morre. As coisas mudaram. Hoje a cesárea é uma boa alternativa para a maior parte dos médicos”, afirma.
Um forte componente econômico também pesa na decisão: enquanto um trabalho de parto pode durar 12 horas ou mais, a cesárea se resolve em menos de uma hora. E o valor pago ao médico pelo convênio – que varia hoje de R$ 300 a R$ 800, dependendo do tipo de plano – é praticamente o mesmo nos dois tipos de parto. Além disso, a cultura da cesárea que se espalhou pelo país nas últimas décadas faz com que o parto operatório seja visto como bem de consumo e garantia de atendimento de melhor qualidade.

A dona da decisão

O termo usado para definir o atendimento que respeita o ritmo natural do nascimento e elimina os procedimentos de rotina é parto humanizado. “A melhor definição para a assistência humanizada ao parto e nascimento é a devolução do protagonismo à mulher: é dela o papel mais importante”, afirma o obstetra Jorge Kuhn. Ela tem liberdade para caminhar, se alimentar, beber líquidos e escolher em que posição prefere ficar durante o trabalho de parto. Pode decidir também quem estará presente. E conta com o apoio de uma doula. “O protagonismo implica assumir responsabilidades. Para isso, é preciso ter informação. O que demanda tempo e investimento”, completa Kuhn.
Sites de grupos de mulheres que lutam pela melhoria do atendimento ao parto, como o Maternidade Ativa (www.maternidadeativa.com.br), o Parto do Princípio (www.partodoprincipio.com.br) e o Amigas do Parto (www.amigasdoparto.com.br), são ótimas fontes de informação.
Listas de discussão na internet, reuniões de casais grávidos e cursos de preparação para o parto também ajudam a perceber que existem opções seguras para as gestantes de baixo risco – cerca de 90% delas –, além do parto normal hospitalar padrão e da cesárea. E são uma forma de tomar contato com alternativas como parto na água, parto domiciliar e parto com parteira, muito controversas e temidas por aqui, mas comuns em países com baixos índices de mortalidade perinatal, como a Holanda.
“Quando eu estava grávida de 6 meses da minha primeira filha, a médica nunca tocava no assunto parto, como se fosse uma coisa totalmente dela e que eu só saberia na hora”, conta a confeiteira Denise Haendchen Gonzalez, mãe de Júlia, de 3 anos, e Alice, de 6 meses. O rumo de seu pré-natal mudou quando leu numa revista uma matéria sobre parto natural: ela entrou em contato com o grupo de apoio indicado, fez um curso de parto e entrou numa lista de discussão sobre o assunto. “Não tinha a menor idéia de que existia a possibilidade de um parto sem anestesia e episiotomia”, lembra. Mudou de médica. “Sou chamada de louca porque todo mundo que conheço teve filho por cesárea.” Suas duas filhas nasceram em casa.
Anestesia, episiotomia (corte no períneo para facilitar a passagem do bebê), ocitocina
Lia
Uma médica e uma enfermeira estavam ao lado do casal de músicos Márcio e Isadora, quando Lia nasceu, no final da madrugada do dia 22 de maio (Foto: Marcelo Min)
sintética (hormônio usado para intensificar as contrações), lavagem intestinal, raspagem dos pêlos pubianos e ruptura artificial da bolsa das águas são alguns dos procedimentos que fazem parte do “pacote” do parto normal hospitalar, embora seu uso de rotina esteja listado entre as práticas consideradas ineficazes ou prejudiciais pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“É o parto normal Frankenstein: parece um monstro, de tão medicalizado”, diz Jorge Kuhn, da Unifesp. “O modo como algumas mulheres são tratadas acaba gerando um trauma do parto. Se você perguntar como foi, ela vai falar que foi horroroso, que teve de ficar sem acompanhante, onde não conhecia ninguém, sem apoio emocional”, explica a obstetra Andrea Campos. Nesse contexto, é inevitável que o parto perca sua dimensão emocional e afetiva e se transforme num obstáculo a ser superado – e a opção pela cesárea pode parecer mais atraente.
A radiologista Ilka Yamashiro Murakoshi, que teve sua filha Beatriz, de 9 meses, num parto domiciliar, conhece de perto essa rotina. “É o que estamos acostumados a ver em hospital onde se faz residência. São cerca de oito mulheres no mesmo quarto, todas em trabalho de parto com ocitocina, cada uma num estágio diferente de dilatação: uma grita, todo mundo grita”, conta Ilka. À impessoalidade do atendimento somam-se ofensas verbais, pressão sobre a barriga para empurrar o bebê, entre outros procedimentos humilhantes e dolorosos. “Na episiotomia, as fibras são cortadas num
Andrea
A médica Andrea Campos aguarda, pacientemente, a hora do bebê e da mãe (Foto: Marcelo Min)
sentido que não é o do músculo. Na hora que o bebê sai, rasga como um pano. E, quando o médico não faz nada, geralmente não lacera porque as fibras estão num sentido e a linha de força do bebê é diferente. Mesmo assim se faz de rotina.”
Tudo isso está ausente da experiência do parto humanizado, que pode acontecer no hospital, em casa ou em casas de parto, onde o atendimento é realizado por enfermeiras obstetras. Em vez de uma experiência traumática, o parto nessas condições é um evento familiar vivido sob intensa emoção. Mais do que espectador, o pai participa ativamente da gravidez e do parto. Apesar da dor, quem vivencia um parto como esse costuma encorajar outras a fazer o mesmo. Nos sites de grupos de apoio, é possível ler os relatos de parto, geralmente textos longos, carregados de sentimentos. São mulheres de diversas idades, profissões e classes sociais. Em comum, têm a felicidade de ter enfrentado um desafio e vencido.

“Sensação de poder”

A advogada Maria Fernanda Zippinotti Duarte sempre desejou ter um parto normal. Quando esperava sua primeira filha, Letícia, de 8 anos, parecia caminhar para isso. Ela e o médico concordavam que seria a melhor opção. Até o discurso do profissional subitamente mudar: a gestação, então tranqüila, virou de alto risco. E ela foi surpreendida pela decisão do obstetra de marcar uma cesárea. Quatro anos depois, no nascimento de Gabriela, nem houve justificativa. A bolsa rompeu, o médico mandou-a para a maternidade e, quando se deu conta, estava numa maca a caminho do centro cirúrgico. “A primeira cesariana eu quis acreditar que fosse necessária. A segunda foi meio absurda mesmo. Mas só tive consciência de que realmente tinham sido desnecessárias quando, na terceira gravidez, resolvi me informar melhor”, conta. Na terceira gestação, o primeiro obstetra foi categórico: o parto normal era impossível com duas cesáreas prévias. Pesquisou e localizou artigos científicos que apontavam o contrário. Seguindo a indicação de grupos de incentivo ao parto normal, encontrou um profissional disposto a apoiar sua escolha. Há cinco meses, nasceu Maria Clara, de parto natural hospitalar, sem anestesia ou qualquer outra intervenção. “Eu me senti renovada. Dar à luz é uma sensação de poder, uma energia muito grande. Tenho muito orgulho de ter buscado e conseguido.”



14 de agosto de 2009

Esclarecendo o cordão enrolado no pescoço


Cordão enrolado no pescoço é motivo pra cesárea?

"Foi cesariana porque tava com o cordão enrolado no pescoço..."

Vamos aos fatos. Às EVIDÊNCIAS acerca do cordão umbilical enrolado. Um pequeno texto explicativo, alguns depoimentos de mulheres cujos filhos tiveram circulares e a opinião de dois renomados (e humanizados) obstetras brasileiros.
A circular de cordão não deixa o bebê sem ar POR ESTAR enrolado no pescoço. Ratos, cabritos, morcegos, humanos ou baleias, a regra é a mesma: Os mamíferos não respiram dentro da barriga pelas vias aéreas superiores. Suas trocas gasosas acontecem via cordão umbilical. As moléculas de oxigênio, de glicose ou o que for chegam até o bebê por meio do cordão. 



Circulares de cordão são comuns em até 40% dos casos no momento do nascimento e, salvo circunstâncias incomuns, não há contra indicação para o parto normal. A diferença da circular cervical para a circular que está nos pés é tão somente o lugar! Uma não é mais preocupante do que a outra porque o que REALMENTE IMPORTA é se o fluxo do cordão está bom. E com a movimentação fetal (normal e esperada), desenrolam dos pés e enrolam no pescoço; desenrolam do pescoço e enrolam nos braços, e assim vamos, durante todo o ciclo da gestação.  


O problema na circular de cordão não está NA CIRCULAR em si, portanto. Pode haver um problema se houver muita pressão nessa circular e na força com que o cordão pode estar enrolado. Infelizmente estamos num país em que é praticamente impossível parir pelo convênio, e muitos obstetras pouco dispostos a desmarcar suas agendas para acompanhar partos valem-se do nosso pouco conhecimento sobre o assunto para justificar uma cesárea com o terrorismo do cordão. Mas vamos pensar uma coisa? Se é tão urgente assim fazer uma cesárea por conta de cordão no pescoço, porque não fazer JÁ, IMEDIATAMENTE, ao invés de marcar para o dia seguinte? Uma cesariana de emergência só se justificaria se os batimentos ou a movimentação fetal estiverem fracos. Só se justifica uma intervenção se for verificado que a circular está pressionando demais o cordão, o que é um evento incomum. Toda a grande questão gira em torno do fluxo dentro do cordão umbilical. Se há uma circular muito apertada, restringe-se também o recebimento de O² e nutrientes para o organismo do bebê. Circulares são extremamente comuns e há bebês que nascem de parto normal com 1, 2 e até 3 circulares de cordão. O procedimento para o parto normal ou a cesárea é o mesmo: Desenrola-se o cordão, retira-se o bebê ou ele sai pela ação da contração. 


Aqui temos depoimentos de mulheres cujos filhos tinham circulares de cordão no momento do nascimento: 


(Quando eu escrevi esse texto minha filha ainda não tinha nascido! Feito! Parto normal com circular no pescoço e outra nos pés, apgar 9/10!)


"Meu filho nasceu na última segunda feira (uma semana hoje. Viva!) Nasceu em casa, na água e com duas circulares de cordão. Uma no pescoço e outra no corpinho. Sem problemas. É só desenrolar! Todo atendimento de emergência no pós parto imediatíssimo é feito na sala de parto ou onde o parto acontecer com recursos mínimos. O que conta nessa hora é o profissional que está atendendo." (Renata)

"Meu filho nasceu com 42 semanas, com circular de cordão, 1 hora e meia de expulsivo e nasceu lindo!!! Enorme, com 3.620 e 52 cm - sem anestesia, sem ocitocina!" (Fernanda)

"Pedro nasceu à 1:19 da manhã, do dia 07/06/2006, medindo 49 cm e pesando 3.260 kg, Apgar 9/ 10, uma circular de cordão e uma circular no pulso. Mamou por 2 horas seguidas e não queria de jeito nenhum sair do peito." (Patrícia)

"Desde o 5º mês meu anjinho tinha duas circulares de cordão pelo seu pescoço e nasceu um menino forte e sadio. Ele tem 8 anos e é um espetáculo de criança" (Sandy)

"Meu parto aconteceu dia 22 de Dezembro, e depois das 4 últimas ultras dando circular de cordão, minha Sarinha nasceu sem ele. Pode?" (Anônima)

"Meu filho nasceu com uma circular de cordão e a gente nem sabia. No último ultra que fizemos a circular não estava lá. O médico desfez a circular e não houve problemas. Nasceu lindo, perfeito e saudável, ficou na sala de parto comigo um bom tempo antes do próprio pai levar pro berçário. Tudo ótimo!" (Dre)

"Acho um “dó″ ver tantas grávidas desesperadas por causa de um exame que não é conclusivo, mas ninguém diz isso prá gente, né? Na minha primeira gravidez, deu dupla circular de cordão e o meu primeiro filho nasceu sem nenhuma. Na segunda não deu nenhuma no ultrassom e ele nasceu com 3!!!! E ainda por cima, na ultra que deu as circulares, a “médica” que fez o exame ainda soltou a pérola: “Ih… Vai ter que ser cesárea…”. Isso acaba com a mulher que quer lutar por um parto normal. Se ela não tem preparo psicológico e acredita piamente em qualquer medicozinho, ela já sai direito daí para marcar a data da cesárea! Gente, só tem que ser cesárea por causa de circular de cordão em pouquíssimos casos ou então se o médico não souber auxiliar um parto normal. Porque as circulares de cordão serão retiradas da mesma forma da cesárea: sai a cabeça, tira as circulares e tira o resto do corpo do bebê." (Ana Cláudia)"



Restrições de fluxo são avaliados pelo médico. Ele avalia o crescimento do bebê, faz cardiotoco, faz ausculta durante as consultas. Se os batimentos reduzem de forma expressiva - e isso não é um acontecimento abrupto - então, sim, o médico pode tomar providências, como a cesariana ou a indução ao parto. Mas, se os batimentos estiverem normais, se a DPP (data prevista para o parto) está distante, se o bebê enrola e desenrola o cordão o tempo todo, porque fazer uma cesariana ou induzir o parto? Circulares de cordão, se fossem realmente um grande monstro, não aconteceriam em todas as gestações - Ou você acha que, em meio ao líquido e com um frio comprido dançando no meio seu bebê já não se emaranhou por diversas vezes?



Virando e se desvirando, embora seja um acontecimento raro, um nó no cordão poderá acontecer. Em muitas vezes ele é uma fatalidade. Mas às fatalidades estamos sujeitas em qualquer momento da gravidez, seja a um acidente de carro ou a um tropeço de escada! O nó dificilmente é diagnosticado antes que algo possa ser feito. Mas teria algum sentido que nós fizéssemos uma cesárea com 5 meses de gestação, por exemplo, pra evitar um evento que é raríssimo?   

Está claro que o fato de a circular acontecer no pescoço ou não, não faz diferença alguma? O que importa é o tamanho da restrição no fluxo, em qualquer lugar em que o cordão vá se enrolar no corpo do neném. Portanto, um bebê só deveria ser exposto à indução ou à cesariana, em último caso, quando verificou-se que uma circular está restringindo o fluxo de nutrientes e oxigênio de forma significativa e prejudicial ao feto.



Se o médico disse que tinha uma circular, o único motivo para marcar uma cesária ou indução é se for uma EMERGÊNCIA - Grande limitação na saída de O² e nutrientes da mãe para o bebê, por meio do cordão. Alteração expressiva dos batimentos, diminuição do ganho de peso. 

Circular de cordão, portanto, NÃO É INDICATIVA DE CESÁREA - Salvo exceções de urgência. Se o seu médico agendou uma cesárea para daqui a 1 mês, com a justificativa "médica" (e não científica) do cordão malvado, 
oxigênio e nutrientes 
Procure outro obstetra. Cesarianas eletivas ou mal-indicadas são um acontecimento comum em mais de 50% das vezes, no nosso país. E apesar de serem bem mais seguras hoje em dia, ao contrário do que reina no imaginário popular elas ainda oferecem mais riscos tanto para a mãe quanto para o bebê, principalmente.  


Palavra de alguns obstetras acerca do cordão umbilical:


Dr.ª Melania Amorim

"Cerca de 40% dos fetos apresentam circular de cordão, ou seja, se fôssemos operar os casos com circular de cordão diagnosticados por ultra-sonografia (USG) já estaríamos, de antemão, condenando 40% das mulheres a uma cesariana, com todos os riscos já conhecidos de uma cirurgia desse porte.

Como o bebê VIRA e DESVIRA o tempo todo (sinal de que está saudável) dentro da barriga, o diagnóstico por USG não é preciso, mesmo quando se usa o Doppler: bebês com circular diagnosticada pela USG podem nascer sem circular e o contrário é verdadeiro, a USG pode não mostrar nenhuma circular e o bebê nascer com uma ou mais circulares.

Entretanto, circulares CERVICAIS (no pescoço) apertadas, associadas a cordão curto e outras alterações, podem ser comprimidas durante o trabalho de parto e, muito excepcionalmente, fora dele. Tudo pode acontecer em uma gravidez, até um avião cair em cima do binômio mãebebê (assim mesmo, sem hífen), o que já foi descrito na literatura. Catástrofes e fatalidades acontecem.

Quais os cuidados? Ausculta, ausculta, ausculta, o que é o procedimento de rotina em todo trabalho de parto, AUSCULTA FETAL intermitente com o sonar Doppler ou mesmo com o estetoscópio, não é necessária cardiotocografia de rotina, e deve ser realizada com ou sem diagnóstico de circular. Lembrem: bebês SEM diagnóstico de circular podem nascer com circular, a circular se forma quando eles mexem de um lado para outro dentro da barriga. A ausculta fetal é, portanto, um procedimento padrão na assistência ao parto, recomendado pela OMS.

Não existe essa entidade nosológica "enforcamento fetal"... Na vida intra-uterina, as trocas respiratórias se fazem pela circulação umbilical, e não pelas vias aéreas fetais. Mecanicamente, o cordão também não conseguiria fraturar o pescoço do bebê, ele é gelatinoso.

O que pode acontecer, muito raramente, é um cordão curto e enrolado no pescoço ser apertado durante as contrações ou a movimentação fetal, e haver interrupção da circulação naquele momento. Se essa interrupção for prolongada, pode haver asfixia porque não vai mais chegar sangue para o bebê.

Além de raríssimo, esse evento não justifica ultra-sonografia de rotina.

PORTANTO:

- Circulares são extremamente freqüentes, 25 a 40% dos bebês NASCEM com circulares.

- Circulares se fazem e desfazem o tempo todo, com a movimentação fetal. Exame ultra-sonográfico pode mostrar circular e o bebê nascer sem, ou vice-versa.

- Não há o que fazer se for diagnosticada uma circular, a menos que se fosse interromper de imediato a gestação, o que não se justificaria, em face da maior morbidade materna e neonatal com a cesárea. Por conta de um evento raríssimo não se vai arriscar tirar um bebê prematuro ou mesmo de termo e expô-lo aos riscos de uma cesariana eletiva, que não são raros (inclusive aumento da mortalidade neonatal).

- Ultra-sonografia de rotina em gestações de baixo-risco não é apoiada por evidências científicas consistentes.

- Durante o trabalho de parto a ausculta fetal pode detectar facilmente alterações da ausculta que eventualmente podem ocorrer em casos de circulares apertadas e, se forem importantes, indicam resolução da gravidez por via alta (cesariana). Durante a gravidez, não é factível fazer monitorização fetal sem indicação."

Dr. Ricardo Herbert Jones:

"Minha experiência com circulares de cordão é razoável. Muitas pacientes me procuravam com medo de uma cesariana porque o seu médico falava que o cordão esta enrolado no pescoço, portanto uma cesariana era mandatária, sob pena do nenê entrar em sofrimento.

Circulares de cordão são banalidades na nossa espécie. Um número muito grande de crianças nasce assim. Eu tinha a informação que a incidência era de 30%, mas talvez seja um número antigo ou inadequado. De qualquer sorte, uma quantia considerável de crianças vem ao mundo desta forma. Já tive partos com 3 voltas bem firmes no pescoço, e com apgar 9/10.

É engraçado ver a expressão das pacientes quando conto pra elas que o que me preocupa não é o pescoço, mas o cordão. O fato do pescoço estar sendo pressionado é pouco importante se comparado com a compressão do cordão. A fantasia da imensa maioria das mulheres (mas também dos homens) é que a criança está se ""enforcando"" no cordão. Elas ficam surpresas quando explico que o bebê não está respirando, então porque o medo da asfixia? Acontece que existe espaço suficiente para o sangue transitar pela estrutura do cordão, protegida pela geléia de Warthon que o recobre, mesmo com voltas em torno do pescocinho. Além disso, se houver uma diminuição na taxa de passagem de oxigênio pelo cordão isso será percebido pela avaliação intermitente durante o trabalho de parto. E esse evento NUNCA é abrupto. DIPs de cordão, como os chamamos, ficam dando avisos durante horas, e são diminuições fortes apenas durante as contrações, com o retorno para um batimento normal logo após. Marcar uma cesariana por um cordão enrolado no pescoço é um erro.

Sei como é simples e fácil apavorar uma mãe fragilizada contando histórias macabras a esse respeito, mas a verdade é que não se justifica nenhuma conduta intervencionista em virtude deste achado. Por outro lado, a presença deste diagnóstico tão disseminado nos consultórios e nas conversas entre pacientes nos chama a atenção porque, se não é um problema médico, é uma questão sociológica.

Esse exame parece funcionar como um acordo subliminar entre dois personagens escondidos no inconsciente dos participantes da trama, médico e paciente.

De um lado temos uma paciente amedrontada, desempoderada diante de uma tarefa que parece ser muito maior do que ela. Acredita piamente no que o ""representante do patriarcado"" (no dizer de Max) lhe diz. Não retruca, não critica; sequer pergunta. Nada sabe, mas precisa do auxílio daquele que detém um saber fundamental aos seus olhos. Diante das incertezas, da culpa, do medo e da angústia ela se entrega, aliena-se. Fecha os olhos e coloca o "anel", que faz com que ela mesma desapareça, entregando-se docilmente aos desígnios dos que detém o poder sobre seu destino. Oferece seu corpo para que dele se faça o que for necessário.

Na outra ponta está o médico. Sofre em silêncio a dor da sua incapacidade. Pensa baixinho para que ninguém leia seus pensamentos. Sabe que pouco sabe, mas também tem plena noção do valor cultural que desempenha. Nada entende do milagre do nascimento, mas percebe seus rituais, muitas vezes ridículos, outras vezes absurdos e perigosos, produzem uma espécie de tranquilização nas mulheres. Não se encoraja a parar de encenar, porque teme que não lhe entendam. Continua então repetindo mentiras, esperando que não descubram o quão falsas e frágeis elas são. É muitas vezes tomado pelo ""pânico consciencial"", que é o medo diante de uma tomada de consciência.Muitas vezes age como um sacerdote primitivo que, por uma iluminação divina ou por conhecimento adquirido, percebeu que suas rezas e ritos de nada influenciam as colheitas, e que o que governa estes fenômenos está muito além de suas capacidades. Entretanto, sabe que os nativos precisam dos rituais, que ele percebe agora como inúteis, porque assim se dissemina a confiança e a esperança. Mente, mas de uma forma tão brilhante, sofisticada e tecnológica, que deveras acredita no engodo que produz.

Ambos, mulher e médico, precisam aliviar suas angústias diante de algo poderoso, imprevisível e incontrolável. Olham-se e tramam o golpe.

O plano que deixará ambos aliviados diante do enfrentamento. Mentem-se com os olhos. Eu finjo saber; você finge acreditar. Peço os exames. Todos. E mais um pouco. Procuro até encontrar aquilo que nos fornecerá a chave. A minúscula desculpa. Eu, com ela nas mãos, posso realizar os rituais que me desafogam da necessidade de suportar a angústia de olhar e nada fazer. Você, poderá escapar da dor de aguardar e fazer o trabalho por si. Poderá dizer que ""tentou"", mas, foi melhor assim. O nenê poderia correr perigo. O cordão poderia deixar meu filho com problemas mentais, etc.

Feito. Pedido o exame, lá estava: O cordão, mas poderia ser o líquido, a posição, a placenta, a ossatura, as parafusetas protodiastólicas. Quem se importa? O carneiro, a virgem, o milho, todos são sacrificados. Quem se importa? Livramo-nos da dor. Anestesiamos nossas fragilidades e angústias. Ritualizamos, encenamos e todos acreditam.

Nem todos! Alguns acordam, mesmo que leve muito, muito tempo."



Para saber mais:

e mais: http://humanizacaoesperta.blogspot.com/2009/05/enrolacao-do-cordao-enrolado.html
Seis razões para tentar o parto normal!

Publicado na www.bebe.com.br
Por Paula Desgualdo
Como a natureza quer: se o parto normal é o desfecho natural de uma gravidez, por que fugir dele antes mesmo de saber se uma cesárea é de fato indicada para o seu caso? “O ideal é que o bebê escolha o dia em que quer nascer”, diz o obstetra Luiz Fernando Leite, das maternidades Santa Joana e Pro Matre, em São Paulo. É claro que, na hora do parto, às vezes surgem complicações. Aí, sejamos justos, a cesariana pode até salvar a vida da mãe e do filho. “Mas, quando a cirurgia é agendada com muita antecedência, corre-se o risco de a criança nascer prematura, mais magra e com os músculos ainda não completamente desenvolvidos”, adverte o obstetra.

A criança respira melhor: quando passa pelo canal da vagina, o tórax do bebê é comprimido, assim como o resto do seu corpo. “Isso garante que o líquido amniótico de dentro dos seus pulmões seja expelido pela boca, facilitando o primeiro suspiro da criança na hora em que nasce”, explica Rosangela Garbers, neonatalogista do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. Sem falar que as contrações uterinas estressam o bebê – e isso está longe de ser ruim. O hormônio cortisol produzido pelo organismo infantil deixa os pulmões preparados para trabalhar a todo vapor. A cesárea, por sua vez, aumenta o risco de ocorrer o que os especialistas chamam de desconforto respiratório. Esse problema pode levar a quadros de insuficiência respiratória e até favorecer a pneumonia.

Acelera a descida do leite: “Durante o trabalho de parto, o organismo da mulher libera os hormônios ocitocina e prolactina, que facilitam a apojadura”, afirma Mariano Sales Junior, da maternidade Hilda Brandão, da Santa Casa de Belo Horizonte. No caso da cesárea eletiva, a mulher pode ser submetida à cirurgia sem o menor indício de que o bebê está pronto para nascer. Daí, o organismo talvez secrete as substâncias que deflagram a produção do leite com certo atraso – de dois a cinco dias depois do nascimento do bebê. Resumo da ópera: a criança terá de esperar para ser amamentada pela mãe.

Cai o mito da dor: por mais ultrapassada que seja, a imagem de uma mãe urrando na hora do parto não sai da cabeça de muitas mulheres. Segundo Washington Rios, coordenador da maternidade de alto risco do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, não há o que temer. “A analgesia é perfeitamente capaz de controlar a dor”, afirma. Isso porque há mais de dez anos os médicos recorrem a uma estratégia que combina a anestesia raquidiana, a mesma usada na cesárea, e a peridural. “A paciente não sofre, mas também não perde totalmente a sensibilidade na região pélvica”, explica a anestesista Wanda Carneiro, diretora clínica do Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo. Dessa forma, ela consegue sentir as contrações e até ajudar a impulsionar a criança para fora.

Recuperação a jato: 48 horas após o parto normal, a nova mamãe pode ir para casa com o seu bebê. Em alguns casos, para facilitar a saída da criança, os médicos realizam a episiotomia, um pequeno corte lateral na região do períneo, área situada entre a vagina e o ânus. Quando isso acontece, a cicatrização geralmente leva uma semana. Já quem vai de cesariana recebe alta normalmente entre 60 e 72 horas após o parto e pode levar de 30 a 40 dias para se livrar das dores.

Mais segurança: como em qualquer cirurgia, a cesárea envolve riscos de infecção e até de morte da criança. “Cerca de 12% dos bebês que nascem de cesariana vão para a UTI”, revela Renato Kalil, obstetra do Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo. No parto normal, esse número cai para 3%. “A sensação da cesariana é semelhante à de qualquer outra cirurgia no abdômen. É, enfim, como extrair uma porção do intestino ou operar o estômago”, compara Kalil. E, convenhamos, o clima de uma sala cirúrgica não é dos mais agradáveis: as máscaras dos médicos, a sedação, a dificuldade para se mexer...

13 de agosto de 2009


Por que a cesárea PARECE mais segura?


Apesar de todas as evidências apontarem para maior segurança de um parto normal, no imaginário popular, a cesariana é que é mais segura e não tem riscos. Ou os riscos são insignificantes em vista da segurança de, supostamente, “ter tudo sob controle”.

Freqüentemente nos deparamos com frases do tipo: “Não queira arriscar a vida do seu bebê pela vaidade de um parto normal a qualquer custo...”




Gostaria de questionar um pouco os motivos que levam ao sentimento de falsa segurança da cesárea. Começo elencando algumas situações, e o que as pessoas pensam e dizem diante delas:




Situação 1O bebê que infelizmente morreu ao nascer:.




a) Se foi normal: Tá vendo? E essas “radicais” ainda ficam defendendo o parto normal. E essa mãe, que ficou insistindo no parto normal? Assassina! Negligência Médica! Se tivesse feito cesárea, a criança estaria viva!

b) Se foi cesárea: Que pena. Os médicos fizeram tudo o que podiam, mas infelizmente a criança morreu... Fatalidade.



Situação 2 – O bebê que nasceu muito, muito mal, mas se recuperou:




a) Se foi normal: Tá vendo? Ficou insistindo num parto normal, olha aí no que deu! A criança quase morreu! Irresponsável! Devia ter feito logo uma cesárea!

b) Se foi cesárea: Olha só como a criança nasceu mal. Graças a Deus que foi cesárea! Se na cesárea já nasceu mal desse jeito, se tivesse insistido no parto normal, a criança teria morrido, com certeza!



Situação 3- O bebê nasceu bem!




a) Se foi normal: Ué, é o normal.

b) Se foi cesárea: Tá vendo? Meu filho nasceu de cesárea e está ótimo! Essa história de riscos da cesárea era tudo mentira, olha só que lindo o meu filho...



O que quero mostrar com isso? Que, na representação social, a cesárea NUNCA pode estar errada. Se a criança morre ou nasce mal, na cabeça de muitas pessoas, a culpa nunca terá sido da cesárea. Já se for parto normal... Mesmo quando a falha é da assistência e não da via de nascimento, logo o fato trágico é usado para ilustrar o perigo do parto normal. Fazendo isso, usamos de dois pesos e duas medidas para avaliar os procedimentos. Como, então, poderemos ter uma opinião isenta desse jeito?




Mas não é só isso. Há o vasto lugar desconhecido dos medos inconscientes e elaborações pessoais. Não é fácil se livrar de uma cultura que aprendeu a associar parto normal com dor e sofrimento, após gerações e gerações que sabiam muito pouco a respeito do funcionamento do próprio corpo. A menos que nos embrenhemos nessa busca, em nenhum momento da nossa vida temos condições de ter acesso a informações ricas sobre como esse nosso corpo funciona na hora do parto. Então, não conheço nenhum assunto onde se propaguem tantos mitos, preconceitos, idéias confusas... E, consequentemente: medo, muito medo.



(...)


Não preciso que acreditem em tudo que digo. Gostaria apenas que todas as grávidas se perguntassem: E se realmente isso (parir) for assim tão belo? E se eu realmente POSSO, SOU CAPAZ de vivenciar essa experiência extraordinária? Será que não vale a pena o esforço de pelo menos procurar uma segunda opinião, de questionar o meu médico até me sentir esclarecida, de ir um pouco mais longe da minha casa...?



Meu filho só vai nascer uma vez...



Há um significado profundo em um parto. A perfeição de podermos, pela primeira vez, eu e meu filho, ter a cumplicidade de confiar, de contar um com o outro para abrir os caminhos do meu corpo, em direção à vida feliz que ele terá...


Trecho de texto da perspicaz Thaís Stella, publicado na GPM em 5/01/2009





(Em roxo - grifo nosso)

Mitos e Fatos sobre o PARTO NORMAL

São poucos os fatos da vida envoltos em tanto mistério, medos e tabus quanto o parto. Talvez nem o sexo tenha sido tão mistificado, alguém aqui já ouviu falar de quem tenha medo de morrer de sexo? Ou de ter falta de líquido, cordão enrolado, bacia estreita para o sexo?

Quem já esteve grávida fartou-se de ouvir de amigos, parentes, conhecidos e até de desconhecidos sobre os grandes perigos do parto. Todo mundo tem uma história trágica a contar. São tantas histórias dramáticas que não consigo entender como é que as nossas cidades não estão povoadas de pessoas lesadas, paralisadas, ressecadas e enroladas em cordões assassinos! Sem contar nas mulheres alargadas e com incontinência urinária no último grau.

Qual é a grávida que não foi parada pela manicure, pela cobradora do ônibus, pela cunhada da prima da vizinha para ouvir uma história tenebrosa sobre o bebê que bebeu água do parto, que chorou na barriga, que fez cocô no líquido amniótico, que secou de tanto que passou da hora, que tinha 30 voltas de cordão no pescoço, que teve um parto seco, que teve um fórceps tão forte que lhe afundou o crânio de lado a lado?

Se você está grávida e se a sua barriga já aparece, certamente você já ouviu uma história dessas e não gostou nada dos pulos que seu coração deu. Pensando em ajudar as mulheres que se encontram nessa situação, aqui vão algumas dicas para ajudar a desmistificar os "grandes perigos" que as cercam quanto mais o parto se aproxima.

MITOEXPLICAÇÃOFATOS
Falta de DilataçãoMuitas mulheres hoje em dia dizem que não conseguiram ter um parto porque tiveram falta de dilatação.Tecnicamente não existe falta de dilatação em mulheres normais. Ela só não acontece quando o médico não espera o tempo suficiente. A dilatação do colo do útero é um processo passivo que só acontece com as contrações uterinas.
Bacia EstreitaUma mulher com bacia estreita não teria espaço para a passagem do bebêExistem situações não muito comuns em que um bebê é grande demais para a bacia da mulher, ou então está numa posição que não permite seu encaixe. Não mais que 5% dos partos estariam sujeitos a essa condição. Além disso, tecnicamente é impossível saber se o bebê não vai passar enquanto o trabalho de parto não acontecer, a dilatação chegar ao máximo e o bebê não se encaixar.
Parto SecoUm parto depois que a bolsa rompeu seria uma tortura de tão doloroso.A verdade é que depois que a bolsa rompe o líquido amniótico continua a ser produzido, e a cabeça do bebê faz um efeito de "fechar" a saída, de modo que o líquido continua se acumulando no útero. Além disso o colo do útero produz muco continuamente que serve como um lubrificante natural para o parto.
Parto DemoradoUm bebê estaria correndo riscos porque o parto foi/está sendo demorado.Na verdade o parto nunca é rápido demais ou demorado demais enquanto mãe e bebê estiverem bem, com boas condições vitais, o que é verificado durante o trabalho de parto. Um parto pode demorar 1 hora como pode demorar 3 dias, o mais importante é um bom atendimento por parte da equipe de saúde. O que dá à equipe as pistas sobre o bebê são os batimentos cardíacos. Enquanto eles estiverem num padrão tranquilizador, então o parto está no tempo certo para aquela mulher.
Bebê passou da horaO bebê teria como uma "data de validade" após a qual ele ficaria doenteOs bebês costumam nascer com idades gestacionais entre 37 e 42 semanas. Mesmo depois das 42 semanas, se forem feitos todos os exames que comprovem o bem estar fetal, não há motivos para preocupação. O importante é o bom pré-natal. Caso os exames apontem para uma diminuição da vitalidade, a indução do parto pode ser uma ótima alternativa.
Cordão EnroladoA explicação é de que o bebê iria se enforcar no cordão umbilicalO cordão umbilical é preenchido por uma gelatina elástica, que dá a ele a capacidade de se adaptar a diferentes formas. O oxigênio vem para o bebê através do cordão direto para a corrente sanguínea. Assim, o bebê não pode sufocar.
Não entrou/não teve trabalho de partoA idéia aqui é de que a mulher em questão tem uma falha que a impede de entrar em trabalho de partoA verdade é que toda mulher entra em trabalho de parto, mais cedo ou mais tarde. Ela só não vai entrar em trabalho de parto se a operarem antes disso.
Não tem dilatação no final da gravidezA explicação é que o médico fez exame de toque com 38/39 semanas e diz que a mulher não vai ter parto porque não tem dilatação nenhuma no final da gravidez.Tecnicamente uma mulher pode chegar a 42 semanas sem qualquer sinal, sem dilatação, sem contrações fortes, sem perder o tampão e de uma hora para outra entrar em trabalho de parto e dilatar tudo o que é necessário. É impossível predizer como vai ser o parto por exames de toque durante a gravidez.
Placenta envelhecidaA placenta ficaria tão envelhecida que não funcionaria mais e colocaria em risco a vida do bebêO exame de ultra-som não consegue avaliar exatamente a qualidade da placenta. A qualidade da placenta isoladamente não tem qualquer significado. Ela só tem significado em conjunto com outros diagnósticos, como a ausência de crescimento do bebê, por exemplo. A maioria das mulheres têm um "envelhecimento" normal e saudável de sua placenta no final da gravidez. Só será considerado anormal uma placenta com envelhecimento precoce, por exemplo, com 30 semanas de gravidez.

Curiosamente, a amamentação também tem uma maravilhosa lista de mitos e lendas, sempre no sentido de diminuir a confiança da mãe em sua capacidade. Se você conhece algum mito interessante do parto ou da amamentação que queira nos contar, nós poderemos incluir neste quadro! Aproveite agora para cuidar de você e do seu bebê. Não deixe que os pessimistas de plantão estraguem esse maravilhoso momento da vida de vocês.

Ana Cristina Duarte
Doula, Educadora Perinatal, Graduanda em Obstetrícia pela USP Leste
Mãe de Júlia (Cesárea Desnecessária) e Henrique (Parto Normal Hospitalar)

Fonte: Parto do Princípio

7 de agosto de 2009

POR QUE procurar um GO humanizado?

Você gosta de mamão. Eu gosto de maçãs. A questão é subjetiva, portanto. Mas se comer mamão é o que eu preciso para soltar o intestino, eu comerei mamão. Não maçãs. Portanto isso já não é mais subjetivo. É um fato, por necessidade. O mamão é laxante, e a maçã, constipante. Não é uma escolha minha: são as propriedades das frutas que decidem qual o melhor caminho para mim.

A subjetividade é algo que, na ciência, não existe. A ciência é a ciência. Não se pode dizer que fumar é algo bom para o organismo porque a ciência provou o contrário. No que tange ao parto, no que isso influencia?

Devemos nos ater ao FATOS CIENTÍFICOS. Resultados de pesquisas rigorosamente controladas. De teses publicadas, de experiências acompanhadas, cujos resultados são levantados e expressos em dados, em estatísticas. E a ciência provou que a papaína, contida no mamão, é uma enzima com propriedades laxantes. Um bom médico é um médico que se atém a esses fatos - Às contribuições da ciência. Mas identificar seu médico como um bom médico só é possível SE VOCÊ SOUBER quais são essas evidências científicas. E você sabe quais são elas? Você tem lido a respeito? Nesta mesma página há resultados e análises de publicações científicas envolvendo a gestação e o parto. Não nos apoiamos em palpites, em subjetividades, para traçar o que é o melhor. Nos apoiamos em FATOS CIENTÍFICOS.

Um médico não pode ser definido como BOM pela sua simpatia. Pelo seu consultório. Por fazer ultrasonografias em cada consulta (Não existem estudos que comprovem que uma US não influencia no desenvolvimento do bebê). Não estou apregoando que um bom médico não seria simpático contigo, pelo contrário! Mas é fato que não é isso que o define como um médico a quem você poderá confiar sua gestação.

Há médicos que se dedicam ao respeito pelas mães e bebês no ato do nascimento, encarando o parto normal como algo realmente natural, e só fazendo cesarianas nos casos de REAIS necessidades. Para saber quais NÃO SÃO essas necessidades, por favor clique aqui, e depois retorne a esse texto novamente. Por outro lado, há médicos que fazem da cesariana algo corriqueiro e habitual, expondo mulheres e seus bebês a uma cirurgia desnecessária que apresenta riscos muito maiores de mortes neonatais e maternas do que em um parto normal.

Por que os médicos agem assim? São MALVADOS?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que cesáreas só devem ser feitas em casos muito específicos. Por que então, mesmo assim, muitos médicos (a maioria deles, em nosso país) PREFERE fazer uma cesárea na sua paciente sem que ela precise, apesar de a OMS condenar veementemente esta prática?

As razões para o altíssimo número de cesáreas desnecessáreas no Brasil são muitas.

1 - Remuneração melhor - Médicos recebem mais, senão o dobro, para fazer uma cesárea do que um parto normal, pelo convênio. Mas a coisa está mudando. Enquanto não sairmos desse gerúndio, a motivação financeira deve ser relembrada e exaltada.

2 - Tempo - Uma cesariana não leva mais de 1 hora para ser feita. Um parto normal pode levar 2, 5, 10 horas, mais! Isso derrota a agenda do mestre, força desmarcar várias consultas, acordar de madrugada, retirar-se de algum evento, ficar de sobre-aviso "APENAS" porque um PN é a melhor eventualidade. Bem, lógico que entra dinheiro também nessas consultinhas desmarcadas - "Tempo é dinheiro"...

3 - "Salve a Tecnologia!" - A tecnologia dá a falsa segurança de que sempre tornamos um evento melhor do que ele poderia ser. A cesárea está neste rol. Ela só deveria ser realizada quando os riscos dela característicos fossem MENORES que os do parto normal, o que nos casos específicos representa menos de 2 casos a cada 10 mães. Essa visão unilateral da tecnologia como algo sempre bom é a mesma que faz com que tenhamos uma televisão no nosso quarto e nenhum livro na nossa cabeceira. A tecnologia que trouxe a cesariana até nós, como meio de resolver casos em que um parto é inviável, é a mesma que hoje causa problemas por acontecer em demasia - Mortes neonatais, maternas, aumento do desconforto respiratórios em bebês, dentre vários outros.

4 - A cultura da dor - Muitos médicos não têm muito trabalho para convencer suas pacientes a fazer uma cesárea. Muitas vezes elas mesmas colaboram, pois têm medo do parto normal por estarem expostas a uma cultura escabrosa, que expõe femmes urrando de dor nos filmes e novelas desde pequenininhas. A cultura da dor é a mesma cultura que AJUDA A TER DOR, haja visto que as mulheres que seguem para a hora de seus partos sem medo acabam tendo dores amenas ou até mesmo NÃO SENTINDO DORES. Ainda assim, essas mulheres encontram mais médicos inclinados à resolver essa "dor" com uma cesárea do que ao parto com analgesia. Por que será, não? ;)

5 - Protagonismo no nascimento - No Parto Normal, quem atua é a mãe. Ela é a protagonista. O médico é uma pessoa que está ali para dar assistência. Na cesárea, quem faz o nascimento é o médico, e a mãe é APENAS espectadora. "Ah... o doutor... Ele tem incrível fascínio por ser o 
dono. Por dominar o nascimento, por recepcionar e ter a sensação de que ele
 trouxe o nascimento. 

Ele o fez. Um mágico com poderes de transformar barrigas contráteis em bebês que
 choram. E lá se vai o doutor pelas sete camadas buscar o coelho no fundo do
chapéu e comemorar a realização de mais um "show da vida" ao fim do
curativo.

 (...) 
Felizmente pode dar seu show em horário nobre, com tudo programado e
 estéril, com a rapidez e eficiência exigidos pelo mundo moderno.
" (Dra Quesia Tamara, médica obstetra humanista em MG).

6 - O dito "sofrimento obstétrico" - Os graduandos da medicina estão sempre sob a pressão do "controle total". Um ambiente em que se aprende a ter total domínio das circunstâncias, em que você é coagido pelo medo de errar, não colabora para que formandos vejam o parto normal como um acontecimento controlável. O medo do "imprevisível" não seria justificável diante de formações sólidas, que partissem de evidências incontestes ao invés do medo pela ameaça de não dominar uma intercorrência futura.

7 - A coercitividade do sistema - Médicos que consigam lutar contra a maré dos motivos expostos acima são frequentemente perseguidos, ultrajados e condenados por muitos de seus colegas.

8 - Formação profissional desconexa aos interesses da população - Faculdades do nosso país, ao invés de produzirem ciência, têm sido cada vez mais órgãos de perpetuação de práticas viciadas. Servimos cada vez mais, em nossos laboratórios públicos, ao interesse de empresas privadas e não aos da população. É na Universidade que se faz ciência. Entretanto as nossas estão cada vez mais expostas aos ditames do mercado - Nestlé e outras grandes corporações pagam para que façamos pesquisas que sejam de seus interesses - Não dos nossos. Aliás, seria uma coincidência que nenéns nascidos pela cesárea sejam iniciados no NAN (Nestlé) com maior frequência do que os nascidos de parto normal?

A subjetividade faz o mundo mais colorido, é a representação da diversidade. Em se tratando do seu corpo, do seu bebê e da vida de ambos, será que confiamos os mesmos à ciência ou à subjetividade dos palpites médicos, formados, coagidos, remunerados e tecnologicamente influenciados por essas circunstâncias?

A saída, mulherada: Procurar um GO humanizado!

(Por Mariah Araújo)

Referências: http://www.primaluz.com.br/ArtigosOK.asp?url=parto-normal-natural-cesariana-cesarea-mitos-dificuldades&Id=3&IdSub=33